A SAÚDE DOS HOMENS

29-07-2010 20:31

         

Eles não se cuidam
 

Por Andrea Miramontes
andrea.miramontes@folhauniversal.com.br


Pesquisas revelam que homens morrem mais cedo e têm hábitos de vida muito piores que as mulheres. E ainda costumam ir menos ao médico. Por que eles não levam a sério a própria saúde?

A cada três pessoas que morrem no Brasil, duas são do sexo masculino e a cada cinco mortes na faixa dos 20 aos 30 anos no País, quatro são de homens, segundo o ministério da Saúde. Além disso, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o homem vive em média 7 anos a menos do que a mulher: a expectativa de vida deles, com base no último levantamento (de 2008), é de 69 anos, enquanto que elas vivem uma média de 76 anos. Para completar esse panorama nada favorável sobre os homens brasileiros, especialistas afirmam que eles, em geral, são muito mais relaxados com a própria saúde do que as mulheres. Além de não irem ao médico com regularidade, os problemas e os óbitos entre os representantes do sexo masculino estão relacionados principalmente com má alimentação e hábitos de vida pouco saudáveis.

A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2009, feita pelo ministério da Saúde por telefone com 54.367 brasileiros em todos o País, mostrou que o homem consome mais refrigerantes e gorduras, fuma e bebe mais, além de comer menos verduras e frutas do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (veja o resultado completo da pesquisa na tabela da página 10).

Para tentar diminuir a resistência masculina de ir ao médico, o ministério da Saúde lançou este ano a Política Nacional de Saúde do Homem que, entre outras medidas, pretende levar 2,5 milhões de brasileiros aos consultórios e laboratórios.

s alimentares, o empresário Alfredo Castro Filho, de 39 anos, está dentro do perfil da pesquisa. Ele aprendeu na marra a visitar médicos com regularidade. Até os 34 anos, Castro Filho não ia muito ao médico, comia de tudo sem qualquer restrição de quantidade e estava 30 quilos acima do peso, mas nunca havia sentido sintomas de qualquer tipo de doença.

“Trabalhava como produtor artístico e trocava a noite pelo dia. Ia jantar pela manhã, quando comia lanche, bacon, ovo, bife frito e refrigerante sem limites. Até os 30 anos não engordava e nada me fazia mal. Mas foi esse comportamento que causou problemas no meu estômago”, afirma ele.

“Só procurava ajuda quando era emergência. Também fui sedentário durante muito tempo. Uma hora a conta veio. Comecei com dores nas costas, tive uma lesão, depois recebi o diagnóstico de uma gastrite e, fazendo exames, descobri que estava com o colesterol alto, uma pedra na vesícula e começo de diabete”, relata.

Avesso a exames e com péssimos hábitoO empresário, então, passou a ir ao médico com frequência, fez todo tipo de exames, controlou a diabete, operou a vesícula e hoje perdeu os 30 quilos a mais que os especialistas condenavam.

A endocrinologista Denise Duarte Iezzi, do Núcleo de Obesidade e Transtorno Alimentar do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, explica que os homens são realmente resistentes a procurar ajuda médica mas, quando a procuram, são mais sérios no tratamento do que as mulheres.

“Quando têm um diagnóstico e precisam mudar hábitos, eles se propõem a fazer isso melhor do que elas. Mas até procurar ajuda médica, eles preocupam-se menos e, por vários hábitos de vida incorretos, têm mais tendência a problemas cardiovasculares.

E não só pela alimentação, mas também pela falta do hormônio feminino estrógeno”, ressalta ela.Para o cardiologista Hélio Castelo, especializado pela Universidade Federal de São Paulo e diretor da Angiocardio, clínica de cardiologia na capital paulista, o sexo masculino sofre mais com problemas do coração, que também são uma das principais causas de morte entre eles. “Problemas cardíacos fazem de oito a dez vezes mais vítimas entre homens do que acidentes de trânsito”, completa.

Castelo aponta ainda que há o agravante da “barriguinha de chope”, mais comum neles. “Foi comprovado que essa gordura abdominal tem relação direta com a gordura nos vasos sanguíneos e na obstrução deles.

Trata-se daquele sujeito que não é gordo, mas tem a barriga de chope, tem estilo de vida inadequado, muitos fumam e só procuram ajuda quando os sintomas aparecem”, destaca.
Outra doença que ronda o universo masculino é o câncer de próstata, tipo de tumor que mais acomete os brasileiros.

De acordo com projeção feita pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), este ano mais de 52 mil homens deverão ser diagnosticados com câncer de próstata – número que pela previsão está muito acima do segundo tipo de tumor que mais afeta os brasileiros, o de traqueia, brônquios e pulmão, com quase 19 mil casos que devem ser descobertos até o fim do ano.

Mesmo assim, os homens ainda são resistentes a procurar o médico espontaneamente para fazer o exame de toque. “Como não sentem nada, acham que não é preciso.

De uma forma geral, o ideal é fazer o primeiro exame até os 45 anos, e daí discutir a periodicidade com o médico”, diz José de Anchieta Machado Nóbrega, urologista do Hospital Bandeirantes, em São Paulo, e membro das sociedades Brasileira e Americana de Urologia.
“Sabemos por estatísticas mundiais de que um em cada seis homens apresentará câncer de próstata em algum momento da vida.

Trata-se de uma incidência grande. Mas hoje a mortalidade está abaixo dos 5% devido ao crescente diagnóstico precoce e tratamentos eficientes. Quando bem controlado no início, há a cura absoluta para este tipo de tumor”, completa.

De acordo com o chefe da seção de Urologia do Inca, Aristóteles Wisnesky, o principal fator de risco para se ter um câncer de próstata é o envelhecimento e não há uma fórmula específica para prevenção, além de exames para detectar a doença logo no início.

“Está ligado também a fatores familiares, pois há maior incidência em negros e uma menor probabilidade em orientais. Além disso, há relação com a alimentação, como a ingestão exagerada de gorduras”, esclarece. Os especialistas não descartam ainda fatores ambientais e o estilo de vida do paciente, que também podem influenciar para o surgimento do câncer.

O advogado André Marfinatti tem 54 anos e nunca fez o exame preventivo de câncer de próstata. E não é só nessa especialidade médica que ele marca falta. Marfinatti confessa que não é muito chegado a nenhum tipo de médico.

“Não sei dizer o porquê, não tenho um motivo específico. Acho que enquanto eu não estiver caindo, não preciso ir. Irei somente quando e se for necessário”, afirma ele, que descobriu recentemente que tem diabete e agora deve começar a se tratar.

“Hoje sinto as consequências da doença se agravando e sei que tenho que começar a ir ao
médico, mas nem assim gosto de frequentar os consultórios. Para quem trabalha é muito difícil viver com as restrições alimentares – comer a cada 4 horas, como os médicos dizem que tem que ser –, além de ter tempo para se exercitar”, argumenta.
 

               

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